segunda-feira, 4 de abril de 2022

𝑬𝒑𝒊𝒔𝒐́𝒅𝒊𝒐𝒔 𝒅𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝒖𝒎 𝒄𝒂̃𝒐

 

Quatro patas, uns olhinhos inquietos, uma cauda atrevida e umas orelhas pendidas faziam deste ser o amigo perfeito para o José.

Um dia, quando regressava da escola, sentiu que o pai escondia alguma coisa, parecia apressado, nem quis ficar um pouco consigo no largo da igreja.

Ao chegar a casa, o José ouviu uma espécie de gemido vindo da cozinha. Primeiro, muito ténue, mas que foi ganhando clareza conforme se aproximava. Abriu a porta devagar, olhou por uma frestazinha, correu com o olhar toda a cozinha e, qual foi o seu espanto: um cachorrinho!

Assim começou a sua história com o Salvador.

Salvador era um canzarrão, o melhor amigo de sempre. Para o José era agora imperioso regressar a casa rápido depois da escola. Passou a fazer os trabalhos de casa num ápice e cumpria as suas obrigações como nunca, sob o olhar inquieto do seu novo amigo. Depois… Ah… depois! Depois, era um rebuliço de brincadeiras sem fim.

Durante toda a infância e adolescência do José, foi assim a vida do Salvador: o cão mais engraçado e querido da rua das Acácias.

O José cresceu, saiu de casa para estudar, e o Salvador, já velhinho, não o acompanhou.

Os dias passaram a ser mais longos e enfadonhos. Os invernos frios eram um tormento para as artroses e o calor do verão ainda o deixavam mais prostrado.

O José sentia que, a cada semana que passava, o seu amigo já não o recebia com a mesma vivacidade de outrora, apenas o olhar inquieto lhe assegurava que aquele era o seu fiel escudeiro.

Um dia, num bonito final de tarde de primavera, o Salvador não se levantou da sua habitual sesta e seguiu em direção ao pôr do sol.

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