𝑬𝒑𝒊𝒔𝒐́𝒅𝒊𝒐𝒔 𝒅𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝒖𝒎 𝒄𝒂̃𝒐
Quatro patas, uns olhinhos inquietos, uma cauda atrevida e umas
orelhas pendidas faziam deste ser o amigo perfeito para o José.
Um dia, quando regressava da escola, sentiu que o pai escondia
alguma coisa, parecia apressado, nem quis ficar um pouco consigo no largo da
igreja.
Ao chegar a casa, o José ouviu uma espécie de gemido vindo da
cozinha. Primeiro, muito ténue, mas que foi ganhando clareza conforme se aproximava.
Abriu a porta devagar, olhou por uma frestazinha, correu com o olhar toda a
cozinha e, qual foi o seu espanto: um cachorrinho!
Assim começou a sua história com o Salvador.
Salvador era um canzarrão, o melhor amigo de sempre. Para o José era
agora imperioso regressar a casa rápido depois da escola. Passou a fazer os
trabalhos de casa num ápice e cumpria as suas obrigações como nunca, sob o
olhar inquieto do seu novo amigo. Depois… Ah… depois! Depois, era um rebuliço
de brincadeiras sem fim.
Durante toda a infância e adolescência do José, foi assim a vida
do Salvador: o cão mais engraçado e querido da rua das Acácias.
O José cresceu, saiu de casa para estudar, e o Salvador, já
velhinho, não o acompanhou.
Os dias passaram a ser mais longos e enfadonhos. Os invernos frios
eram um tormento para as artroses e o calor do verão ainda o deixavam mais
prostrado.
O José sentia que, a cada semana que passava, o seu amigo já não
o recebia com a mesma vivacidade de outrora, apenas o olhar inquieto lhe
assegurava que aquele era o seu fiel escudeiro.
Um dia, num bonito final de tarde de primavera, o Salvador não se
levantou da sua habitual sesta e seguiu em direção ao pôr do sol.
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